O Aventureiro, praia com vila de moradores, localizada na Ilha Grande, município de Angra dos Reis, no Estado do Rio de Janeiro está dentro de uma Reserva Biológica, que foi decretada em 1981, mesmo com os moradores já vivendo na região, comprovadamente há cinco gerações. Os moradores da Praia do Aventureiro são identificados como comunidade tradicional caiçara. Por esse motivo, vivem um conflito, que envolve identidade, territorialidade e legalidade, no momento de pós- modernidade, quanto estes debates estão em cena mundialmente, como uma consequência da globalização, que encontra resistência na tradição. Caiçara é confundido com o termo Badjeco, que é pejorativo e discriminatório para quem vive afastado da sociedade, na Ilha Grande, e foi ouvido principalmente pelas gerações mais velhas, que sofreram com o termo. No entanto, “caiçara” passa gradativamente a fazer mais sentido, na percepção de benefício e valor principalmente para as novas gerações. Os moradores gradativamente vão incorporando o uso do termo, embora se reconheçam primeiramente e mais fortemente como moradores. Este trabalho busca compreender a identidade das pessoas que moram na Praia do Aventureiro, e toda forma de manifestação da sua representatividade. Buscou-se também identificar fatores que representam os moradores, relacionando elementos que dão autenticidade e significado ao pertencimento daquelas pessoas à praia do Aventureiro, tanto como comunidade quanto como indivíduos, através da análise da estrutura familiar e da distribuição de suas áreas de domínio na comunidade, do estudo das relações de gênero e representações políticas, a performance da AMAV e dos atores principais do drama que, até o término da pesquisa, ainda viviam colocando-os em uma posição de liminaridade com prazo de validade desconhecido. Esta tese foi desenvolvida a partir de pesquisa bibliográfica, documental, com observação participante, análise interpretativa de imagens simbólicas (desenhos, pinturas, colagem) construídas pelos moradores para significar o que é a praia do Aventureiro e seus habitantes, além de realização de entrevistas semiestruturadas dirigidas aos moradores e aos visitantes. Foi trazida para análise toda manifestação identitária material e imaterial percebida de 2009 a 2012, sendo apontados e interpretados os elementos da casa e do cenário da fachada do Aventureiro, discutindo os arranjos familiares, na reorganização entre a tradição e a modernidade, principalmente após a demolição em 1994, do histórico presídio de segurança máxima Cândido Mendes, situado na Vila de Dois Rios, o que fez com que a demanda pelo turismo na região aumentasse. O turismo aparece como uma espécie de “portal” para a sociedade de consumo, resultando na existência de mais um conflito privado, entre as gerações de filhos e de pais, visto que ambos possuem referências de modelos de vida distintos, o modelo dos pais está anacrônico à nova fase econômica e política que vivem. Os rituais de passagem, como o roubo das mulheres, e as festas, como a de Santa Cruz, são descritos, assim como alguns artefatos, expressões da linguagem, as crenças, os valores e os hábitos. O drama social da recategorização, quando provavelmente a área onde vivem os moradores poderá ser desafetada, passando a ser enquadrada como outra categoria, possivelmente Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) ou Área de Proteção Ambiental (APA).