A partir da implosão do chamado “Presídio”, localizado na Vila Dois Rios, Ilha Grande (Angra dos Reis, RJ) em 1994, adveio um enorme e desordenado crescimento da atividade turística na Ilha. A Vila do Abraão, considerada a porta de entrada da Ilha, foi a que sentiu mais rapidamente esta transformação. Nela se concentra a maioria dos “de fora” que vêm tentar se estabelecer na Ilha, como os “pousadeiros”, os “barqueiros” e diversos comerciantes. Essa “explosão do turismo”, juntamente com o enfraquecimento da atividade da pesca, que era uma das principais atividades econômicas da Ilha, teve grande influência para a constituição do que hoje se reconhece como um segmento importante na vida local: os “barqueiros”. O grupo dos “barqueiros”, dentre aqueles recentemente constituídos, é formado tanto pelos “de fora” (“não-nativos”) quanto pelos “de dentro” (“nativos”). Dentro deste universo, este trabalho trata de como “os barqueiros” se constituíram; da caracterização de um “barqueiro”, da contrastividade entre barqueiro e pescador; como se organizam e se autoclassificam, a interação dos subgrupos existentes dentro do próprio segmento dos barqueiros; como se relacionam com o universo turístico com o qual lidam e as divergências entre eles. E, por fim, como tudo isso se relaciona com a lógica de interesses/lucro trazida pela “explosão do turismo”.