Este trabalho interpreta uma experiência de campo como uma encarnação da teologia da batalha espiritual, dentro de um quadro de encarnações da Bíblia na comunidade de Provetá. A experiência etnográfica que fornece o eixo para a elaboração teórica fora o período do carnaval, quando se instaurou uma tensão entre duas festas que, por acontecerem nos mesmos dias, disputavam a presença das pessoas. Cada uma das pessoas na Terra é palco e motivo de uma guerra cósmica do bem contra o mal. Delinear Deus como um personagem que age no território e nas pessoas compõe a caracterização da identidade local. A capacidade que os provetaenses têm de comunicar-se com Ele e de manifestá-Lo fornece limites e condições para a integração à comunidade. O Diabo, por seu turno, vem complexificar o campo de sentidos dos pentecostais. E assim, festa dos Gideões e carnaval oferecerão, com seus rituais e êxtases próprios, vias de acesso a estas potências inspiradoras dos eventos mundanos. Entre uma festa dos crentes e outra dos não crentes e desviados, sondarei aqui formas de pertencimento à igreja e à comunidade, procurando dar voz às pessoas e indexar seus discursos às suas histórias, a fim de manter alguma fidelidade às categorias locais (o que é fundamental para retratar o campo) sem perder de vista a compreensão de que as verdades são e devem estar sempre localizadas, para que tenham serventia à análise antropológica. Procuro fazer um recorte espaço-temporal da experiência das festas; apontando temporalidades concorrentes e uma geográfica simbólica da comunidade determinada.