“CAIÇARA SIM, COM MUITA GARRA”: contradições vividas na territorialização da comunidade do Aventureiro na Ilha Grande – RJ

Inês Chada Ribeiro
Informações
Categoria: 
Referência Bibliográfica: 

RIBEIRO, Inês Chada. “CAIÇARA SIM, COM MUITA GARRA”: contradições vividas na territorialização da comunidade do Aventureiro na Ilha Grande – RJ. Dissertação (Mestrado em Cultura e Territorialidades), Universidade Federal Fluminense - UFF. Niterói, RJ. 2019.

Local: 
Niterói, RJ
Ano: 
2019
Instituição: 
Universidade Federal Fluminense - UFF
Orientador(a): 
João Luiz Domingues
Número de Páginas: 
136
Palavras-chaves: 
cultura caiçara, unidade de conservação, turismo, territorialização, praia do Aventureiro.
Anexo
Resumo: 

A criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) na praia do Aventureiro na Ilha Grande – RJ, em 2014, é fruto da luta conjunta da comunidade em parceria com pesquisadores e movimentos sociais. A RDS do Aventureiro resolveu a situação de
ilegalidade em que a comunidade se encontrava desde 1981, quando foi criada a Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul (RBPS). Apesar das adversidades geradas pela RBPS, como as ameaças de remoção da comunidade que ocupa aquela área há várias gerações, ela também representou uma barreira para a realização de projetos turístico-imobiliários por agentes externos.
Esta pesquisa buscou conhecer a percepção da comunidade do Aventureiro na Ilha Grande – RJ sobre três temas entrelaçados e marcantes em sua história: a presença das unidades de conservação, a identidade caiçara e o turismo; e de que forma eles fortalecem ou fragilizam a comunidade em seu território.

No período de desenvolvimento de pesquisa (2017 – 2019) foram realizadas cinco idas à campo utilizando a metodologia de observação participante. Em junho de 2018, “baixa temporada turística”, passei 3 semanas na comunidade, e realizei 18 entrevistas semiestruturadas, envolvendo pessoas de diferentes grupos familiares e idades. A recente “recategorização” de uma parcela da RBPS para dar lugar a RDS do Aventureiro foi considerada uma vitória para aqueles moradores que não desejam ir embora do território. Entretanto, esse processo foi marcado por uma série de desgastes internos tanto na comunidade quanto dentro do órgão ambiental. Tudo isso agravado pela não implementação da gestão da unidade até o fim dessa pesquisa.
A construção da identidade caiçara está intimamente ligada ao tema das unidades de conservação, quando os socioambientalistas passam a defender os direitos desses grupos, considerados “tradicionais” a permanecerem em seus territórios. Com o passar do tempo, estes grupos passam a se autorreconhecer como caiçaras, valorizando os saberes mais antigos ligados à roça e a pesca, como também reivindicando a ancestralidade das famílias que ali vivem. A pesquisa de campo revelou uma gradação de “caiçarismo”, na medida que os mais  velhos são reconhecidos como caiçaras “legítimos”, ao passo que os mais novos, já estariam mais “desfigurados”, segundo fala de um interlocutor. Isto aponta para uma idealização do
modo de vida de caiçara o que afastaria a identificação das novas gerações.

Por fim, a temática do turismo aparece como um elemento ambíguo e de conflito. Ele corrói uma visão romântica em torno do “caiçara”, sustentado por alguns ambientalistas, e também impõe uma série de desafios internos, quando a comunidade relata uma maior desunião da comunidade, acarretada dentre outros fatores, pelo turismo. Por outro lado, a prática do turismo fortalece a permanência da comunidade, já que se tornou uma fonte de renda significativa para o local, entretanto acentua um processo de estratificação social.

A história da comunidade do Aventureiro expõe as próprias contradições da sociedade capitalista em que estamos inseridos e ao mesmo tempo traz inspirações para as relações nãocapitalistas que são tecidas. Os debates apresentados nesta dissertação contribuem na reflexão sobre as discussões identitárias, das unidades de conservação e do turismo, na produção territorial local.

Observações: 

Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação em Cultura e Territorialidades da Universidade Federal Fluminense, como
requisito parcial para obtenção do grau de mestre.

Comunidades/praias: 

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