Este trabalho tem como objetivo compreender a recente presença da mídia eletrônica de massa nas vidas de alguns moradores de Provetá, uma vila de pescadores da Ilha Grande, Estado do Rio de Janeiro. Comumente designada como uma comunidade evangélica, a vila tem recebido fornecimento de energia elétrica há apenas 4 anos – num processo político onde os vínculos religiosos entre autoridades do Estado e da sociedade civil foram determinantes –, sendo bastante recente a popularização do consumo de bens culturais através da televisão, aparelhos de som, videocassetes, DVD e demais aparelhos audiovisuais. A partir de uma perspectiva comparativa entre duas reportagens realizadas na comunidade – uma no ano de 1992, pela hoje extinta “Rede Manchete”, e outra recentemente, em Janeiro de 2006, pelo programa “Domingo Legal” do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) –, minha intenção foi explorar, tanto nas narrativas midiáticas sobre a identidade “evangélica” da comunidade quanto na relação que os moradores de Provetá mantinham com estas, diferentes lugares do pentecostalismo no espaço público brasileiro – e neste sentido, expressas diferentemente no campo midiático – e diferentes maneiras através das quais os moradores da comunidade (crentes, “afastados” e “desviados”) relacionam-se com “o mundo”. Quero argumentar que esta inserção do espaço midiático na vida social de Provetá tem engendrado significativas transformações nos processos locais de construção identitária, nas formas de lidar com contextos familiares e públicos, nos padrões éticos e estéticos, e centralmente, nas modalidades de acesso destes moradores ao espaço público. Nesse sentido, minha intenção foi explorar um recorte histórico em torno das relações entre religião e mídia eletrônica de massa a partir de um estudo de caso.